“O petróleo é nosso”

Lá pelos idos dos anos de 1960/70, a escola de samba Higienópolis de Catanduva propôs homenagear Monteiro Lobato e eu arrisquei a letra de um samba enredo. Um dos versos, num breque, o samba dizia: “Monteiro Lobato, petróleo jorrou de sua mente e histórias de carochinha...” Ora, ora, pensaram, como pode petróleo jorrar da cabeça? Monteiro Lobato, tanto quanto Júlio Horta Barbosa e Leônidas Cardoso dentre outros ilustres brasileiros, estiveram à frente da campanha “O Petróleo é nosso”. Essa campanha foi lançada por Getúlio Vargas, a partir de 1947 e coroada de êxito em 3/10/53, quando o próprio Getúlio sancionou a lei que criou a Petrobrás.

Às vezes sancionar uma lei não é tarefa fácil. Não existia ainda àquela época o neoliberalismo [surgiu a partir da queda do muro de Berlim em 1989], mas os liberais tinham proposições idênticas a eles, preferiam entregar o nosso petróleo para a iniciativa privada. Na questão política, portanto, havia certa semelhança com os dias atuais: de um lado a esquerda em defesa do nacionalismo e de outro o integralismo neofacista e entreguista. As forças antinacionalistas não eram frágeis. Não à toa Getúlio havia sido derrubado do poder em 1945, encerrando-se o seu ciclo ditatorial. Somente quando se elegeu pelo voto em 1950, com o povo alegre entoando a marchinha pelas ruas, pois as rádios a difundiram largamente: “bota o retrato do velho, menino, bota no mesmo lugar; sorriso do velhinho faz a gente trabalhar ”, ou seja, bota o retrato em todas as repartições públicas, pois Getúlio sendo eleito ganharia força para implantar a sua política nacionalista e faria com que houvesse trabalho para todos.

Mas não só pela força do voto, a conjuntura pós-guerra favoreceu a sua postura desenvolvimentista, inclusive porque optou por entrar na guerra contra o Eixo e industrializar o Brasil para contribuir com as forças aliadas. Então, não somente a Petrobrás, mas a Vale e a Siderúrgica Nacional são as grandes marcas de sua gestão. As forças privatistas nacionais retraíram-se para voltar a atacar somente em 1954, contribuindo inclusive para levar Getúlio ao suicídio. A sete irmãs produtoras de petróleo continuaram recusando-se a investir no Brasil afirmando que por aqui não havia petróleo, embora os brasileiros já o tivessem descoberto em 1939.  A Petrobrás saiu-se vencedora. Aliás, já em 1938, pelo decreto-lei 395 Getúlio “declara de utilidade pública e regula a importação, exportação, transporte, distribuição e comércio de petróleo bruto e seus derivados, no território nacional, e bem assim a indústria da refinação de petróleo importado em produzido no país”.

Completando 66 anos de existência agora em 2019, a Petrobrás tornou-se a maior empresa brasileira e é detentora da mais alta tecnologia para produzir petróleo, inclusive em águas ultra profundas. Descobriu reservas petrolíferas que sustentariam o nosso consumo por aproximadamente 120 anos e tem capacidade de refino nas suas 13 unidades, instaladas nos estados do Amazonas (1), Ceará (1), Rio Grande do Norte (1), Pernambuco (1), Bahia (1), Minas Gerais (1), Rio de Janeiro (1), São Paulo (4), Paraná (1) e Rio Grande do Sul (1). Mas a plutocracia tupiniquim, os defensores das privatizações não desistem jamais.

Ditado popular diz que o fruto não cai longe do pé, mas Fernando Henrique Cardoso, filho do general Leônidas Cardoso, acima citado como defensor do “petróleo é nosso”, ignorando a luta de seu pai, desejava privatizar a Petrobrás, inclusive mudando-lhe o nome para Petrobrax.

Atualmente, sob o governo de Bolsonaro/Guedes, os esforços para a privatização de nossa maior empresa se multiplicam. Um aumento de quase 6% no preço do diesel estava previsto para a semana que passou. O presidente Bolsonaro impediu, a pressão dos caminhoneiros foi grande. A bolsa despencou, os acionistas da Petrobrás protestaram. O povo não entende muito bem e pensa que houve prejuízo, mas pergunto-lhes: quem é o maior acionista da Petrobrás. Respondo, o governo. Ora se é o governo um representante do povo, o maior acionista da Petrobrás é o povo brasileiro que ao longo de mais de 6 décadas contribuiu para a sua grandeza, portanto, privatiza-la é um crime de lesa-pátria e aumentar o preço só beneficia os rentistas. O petróleo é nosso, futuras gerações agradecerão.

 

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